Depois de alguns anos sem Copa do Mundo – a última havia sido disputada na França, em 1938 – o Brasil abriria uma nova fase do seu futebol na inauguração do Maracanã, no Mundial de 1950. A perda do título para o Uruguai representou o desespero do povo brasileiro, que contava com o título máximo do futebol universal, mas que deixou escapar, até hoje, não se sabe como.
Governava o País o general Eurico Gaspar Dutra, que mesmo com a vitória na guerra, ao lado dos aliados deveria dirigir um país repleto de problemas de todas as ordens. Nesse período surgiram inovações no campo energético, com a usina de Volta Redonda. Vargas volta ao poder, mas suicida-se pouco depois.
Em Santa Catarina, no final da década, o povo chorou a morte do governador Jorge Lacerda e do ex-presidente Nereu Ramos em acidente aeroviário, sendo o mandato concluído por Heriberto Hülse, que embora originado do Sul do Estado era também um amante do esporte. Em Blumenau, 1950, recordava a vinda do Dr. Blumenau e os primeiros colonizadores. Cem anos depois suas filhas vinham conhecer a cidade, ocorrendo grandes comemorações, inclusive a realização de um citadino entre Olímpico, Palmeiras e Guarani.
No futebol do Estado surgia a maior força do cenário estadual, o Carlos Renaux, que dificilmente era superado pelos mais diversos clubes catarinenses.
Coisas do Futebol

Campeão estadual em 1949, em final disputada em maio de 1950, o Grêmio Esportivo Olímpico tinha tudo para repetir o grande feito de vitórias naquela temporada, mas esbarrou em duas equipes que haviam preparado verdadeiras barreiras para o detentor do título catarinense: o Carlos Renaux e o Palmeiras.
Eram dois títulos que interessavam ao clube: Campeonato da LBD (Liga Blumenauense de Desportos) e o Citadino, em comemoração ao Centenário de Blumenau. Na primeira competição, Carlos Renaux, o tricolor da cidade dos tecidos, surpreendeu a todos, levando o título e chegando a decisão estadual.
Perdido o título regional, o Olímpico partiu para a disputa do Campeonato do Centenário, tendo como adversários o Palmeiras e o Guarani. O alvi-verde sofrera uma mudança em sua equipe, buscando com isso um reforço considerável para as competições futuras. Conseguiu trazer de volta o goleiro Oscar, campeão estadual em 1949 pelo Olímpico, o zagueiro Antoninho, o lateral Osny, que estava em Curitiba, além de Alvarenga e Piazera, de Joinville, Britinho, do Avaí, Agostinho, do Bonsucesso do Rio, Paulinho, veloz ponteiro paranaense e Valdir, goleiro do Atlético de São Francisco. Juntamente com esses atletas, mais os remanescentes da campanha anterior, como Sadinha, Teixerinha, Lazinho, Schramm, entre outros, tornaram-se verdadeiras dores de cabeça para o técnico do Olímpico, o experiente Leleco.
O campeonato da cidade iniciou-se em 13 de agosto, com o Olímpico sofrendo para vencer o Guarani, na Itoupava Norte, por 5×4. Em 16 de agosto viria o primeiro clássico, no Estádio da Baixada. Aos 59 segundos Paulinho abriu o marcador para o Palmeiras, mas o empate veio aos 25 minutos. Novamente Paulinho, estreiando em competições oficiais, acabava com as esperanças dos grenás. O primeiro turno encerrou-se com outra vitória do Palmeiras, por 3×0 sobre o Guarani.
No returno, dia 27 de agosto, novamente o mesmo Guarani volta a atrapalhar os planos do Olímpico, que por muito pouco escapa do 0x0 em pleno Estádio da Baixada, com um gol de Juarês.
Na decisão o Olímpico precisava de uma vitória, mas foi surpreendido pelo esquadrão palmeirense sendo derrotado por 4×1 no dia 10 de setembro. Mais um título perdido; pior ainda, para o inimigo número 1 do clube. Coisas do futebol.
A disputa do ano de 1951 tinha tudo para novamente ser o Carlos Renaux campeão da LBD. Inexplicavelmente a cidade foi surpreendida com a transferência de Teixeirinha para o Carlos Renaux, tirando assim do Palmeiras seu principal ídolo. Dessa forma o adversário da equipe verde não era mais o Olímpico, que se aproveitou dessa “guerrinha de nervos” para chegar ao título daquele ano. O time da Alameda Rio Branco havia sofrido algumas modificações, começando pelo goleiro, que com a saída de Oscar, o lugar foi ocupado por Viana; na zaga, além de Aducci e Arécio, havia o revezamento com Gastão e Adir; o clube trouxe ainda o jogador Jalmo, um dos grandes destaques daquele ano, além de Piazera, já que Walmor, campeão da época havia se licenciado como jogador para dedicar-se à vida profissional de médico.
A campanha iniciou-se com uma vitória sobre o Guarani, por 4 a 1, passando logo em seguida a equipe blumenauense sobre o Paisandú, por 4 a 2.
O primeiro clássico veio no dia 28 de outubro; Palmeiras e Olímpico realizaram uma disputada partida, que durante o período normal fora repleta de grandes emoções. A vitória coube aos grenás, por 5 a 4; A equipe do Olímpico ainda passaria pelo Carlos Renaux, por 3 a 2, em surpreendente partida realizada em Brusque, indo para o returno com todas as condições de repetir o feito de 1949, em termos regionais.
No início da segunda fase do campeonato da LBD, o Olímpico recebia de volta o técnico José Pera, trazido pelo novo presidente, Arnaldo Martins Xavier, que assumia no lugar de Werner Eberhardt, os destinos do clube. Na primeira partida, porém, realizada em Brusque, não suportou o potencial do Carlos Renaux, que apoiado pela torcida venceu por 3 a 1. No jogo seguinte o Olímpico conseguiu uma boa recuperação, superando o Paisandú por 4 a 1, chegando novamente à liderança do campeonato, já que o Palmeiras o ajudara, derrotando o Carlos Renaux, na estréia do ídolo Teixeirinha, por 2 a 0.
Apesar de ter empatado em 1 a 1, diante do Guarani, em um jogo totalmente desencontrado, bastou ao Olímpico dobrar o Palmeiras em um novo clássico, por 2 a 1, com tentos de Cará e Renê, com Abreu (ex-Olímpico) descontando para o adversário.
Mais um título regional, o antepenúltimo da era intermediária do futebol catarinense – das disputas concentradas em regiões, antes de mais um triunfo do alvi-rubro, já em 1964. Além do título o Olímpico teve o goleador do campeonato da LBD, o ponteiro esquerdo Renê, com sete gols.
“Vacas Magras” por alguns anos. Enquanto que no atletismo o clube alcançava inclusive destaque a nivel nacional, no futebol perdia campeonatos, mas sempre chegando entre os principais da região.
O time maravilhoso do final da década de 40 e início da de 50 havia se desfeito, tendo apenas Aducci, como o último remanescente, até 1961, quando o clube voltou aos louros da vitória. A direção chegou a trazer bons craques durante esse período, como o próprio “eterno artilheiro” Teixeirinha, mas esse já em final de carreira.
A década de 60 foi para o Olímpico mais um momento de muita glória, mas do próprio declínio do futebol, embora belas campanhas, e consolidação de seu enorme patrimônio, que hoje ainda é um marco na vida social blumenauense.
Na verdade não faltava espaço nos noticiários de todo o Mundo o grande feito de Yury Gagary, o primeiro homem a ver a Terra do início do infinito: “Ela é azul”. O Globo Terrestre presenciara mais um conflito, na Coréia, e experimentava o início da “Guerra do Vietnã”.
A violência prosseguia em termos mundiais. Na Alemanha era erguido o muro da vergonha, e em Dallas, nos Estados Unidos Kennedy, assassinado.
No Brasil JK termina “os seus anos dourados”; Jânio vence as eleições com larga margem, mas renuncia logo em seguida, alegando pressões de “Forças Ocultas”. Os brasileiros influenciavam-se com os gritos de Paz sugeridos pelos Beatles, com o ritmo de Elvis Presley; a jovem guarda se apresentava; surgia a televisão; e uma série de inovações. Blumenau se projetava: Vera Fischer, Miss Brasil.
Por outro lado, iniciava-se no País um período negro que só encerrou-se 21 anos depois – a repressão. Jânio, Brizola, Jango e Jucelino no exílio. As idéias latinas começam por Cuba, morre Chê Guevara.
Em Santa Catarina o período de governo foi de Celso Ramos e Ivo Silveira; esse último dotando o Estado com inúmeros ginásios esportivos. Arthur Schlösser criava os jogos abertos, e no futebol iniciava-se uma nova fase, com maiores dimensões e abrangência. Blumenau vivia a comemoração de mais um título estadual, embora que fosse a última década do profissionalismo branco-grená. O Olímpico reestruturava-se incrementando sua condição de clube sócio-recreativo.