Blumenau e o amadorismo
Talvez no Sul do País nenhuma cidade possa ser comparada a Blumenau em termos esportivos. O esporte está no dia a dia do blumenauense. Seu povo, desde a colonização, sempre esteve predestinado às práticas do amadorismo, e foi ele, exatamente que levou o nome da cidade a todos os quadrantes brasileiros.
Santa Catarina, nas suas regiões alemãs, desde os primórdios iniciou com o Tiro, a Ginástica, o Remo, e mais precisamente em Blumenau, já nos anos 30, possuía-se o Tênis de Campo, praticado no “Tennis Club Blumenauense” e “Tênis Rotweis”, ambas possuidoras de instalações que para a época se sobressaíam em termos estaduais. As elites preferiam, entretanto a Ginástica Alemã, que em seu seio criava para seus adeptos outras modalidades. Surgem o Handebol, Faustball (Punhobol), Vôlei, Basquete, entre outras.
Mais adiante, os jovens estudantes traziam o Remo, e dois clubes se destacaram como o América e o Ypiranga. Por volta de 1927, além das competições no Rio Itajaí-Açu, também promoviam provas de natação, que ganharia mais tarde a popularidade nas diversas piscinas existentes na cidade.
Na sociedade Ginástica de Blumenau existiam todas as possibilidades, pois as pessoas, à medida que surgia um novo esporte, iniciavam sua prática naturalmente, tanto que o próprio futebol, que deu origem ao Grêmio Esportivo Olímpico, encontrou uma boa receptividade.
A Ginástica Alemã da época poderia ser hoje comparada com a atual Ginástica Aeróbica. Fora dos aparelhos, seus exercícios eram praticados em grandes grupos, com acompanhamento musical. Não obstante aos exercícios de solo e de aparelhos especiais, que ainda hoje identificam esse esporte, já eram muito bem conhecidos e anualmente inovados, com célebres visitas de ginastas alemães, que traziam da “Pátria-Mãe” de toda aquela gente, novas técnicas durante grandes espetáculos, vistos por quase toda a cidade.
Como um esporte popular entre os alemães, a ginástica de Blumenau teve momentos de glória destacando-se em apresentações em todo o país, principalmente em capitais, como no Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, e seu desaparecimento, ressurgimento, em 1989 no Olímpico, foram dois capítulos em seqüência, embora o espaço de mais de 50 anos.
O Grêmio Esportivo Olímpico recolheu da memória, resgatou de uma história brilhante às suas raízes – a Ginástica Olímpica e o próprio Tênis. Depois de várias tentativas, esses sonhos voltaram a ser uma realidade, com esforço e colaboração de todos.
O amadorismo veio com o novo estatuto
Os estatutos da Sociedade Desportiva Blumenauense, publicados no “Der Urwaldsbote”, do dia 25 de outubro de 1938, 19 anos depois da fundação da entidade, eram bem claros em seu primeiro artigo, estabelecendo que “Constitui-se sob a denominação de Sociedade Desportiva Blumenauense, com sede e foro nesta cidade de Blumenau, uma sociedade para o fim de praticar o futebol e incentivar outros esportes, cooperando assim, para o desenvolvimento físico e sócio-cultural de seus sócios e componentes”.
Mais adiante, encontra-se o artigo nove, item 3, “praticar toda a espécie de exercício atlético no estádio da Sociedade”, de maneira que, dos três diretores de esportes determinados no documento um seria necessariamente para dirigir o amadorismo, embora a maior parte dos jogadores de futebol ainda não serem profissionais.
Isso mostra que já era intenção da diretoria, então liderada pelo presidente Otto Abry, que tinha ao lado Walter Meyer, era dar uma roupagem diversificada no clube, não fazendo que apenas o futebol fosse a única razão de existir.
Se é que podemos considerar hoje em dia o esporte Olímpico puramente amador, outro exemplo da disposição dessa diversificação e interesse em outras modalidades foram as Olimpíadas de 1936, em Berlim, que encheram os olhos dos descendentes de alemães. Recebia-se através dos jornais da época, amplas informações da Imprensa do Reich sobre o que acontecia na sua capital em termos esportivos. Descobria-se novos ídolos internacionais, destaques e até polêmicas.
Mas o amadorismo, podemos dizer, antes desse marco inicial, representado pelos Estatutos de 1938, já vinha sendo fora do futebol, que a largas passadas buscava o profissionalismo. Acreditava-se na época que sua sobrevivência necessitava unicamente de uma organização, pois potencial, na verdade, já existia.
Para algumas pessoas, os demais esportes viriam estabelecer-se no Olímpico com as notícias dos Jogos Abertos do Interior de São Paulo e Corrida de São Silvestre, em meados da década de 40, mas alguns registros informam que existiam equipes semi-competitivas, principalmente porque a nível escolar eram trazidas modalidades muito interessantes, apesar de que sua prática ainda não obedecia tecnicamente um rumo.
O então presidente, Otto Abry, era um grande incentivador do esporte, e defendia vorazmente que prosseguisse o amadorismo. Talvez por uma ambição própria e de seus companheiros de diretoria, queria montar na Sociedade Desportiva Blumenauense uma estrutura moderna, a exemplo do que ocorria em outros centros.
A nova diretoria tomou posse em 23 de janeiro de 1935, quando já tinha como meta a construção do novo estádio e a implantação de modalidades diversas. Sua gestão no primeiro ano foi marcada por um torneio de futebol suíço, para proporcionar a participação de todos os associados. Essa foi a primeira marca, em 10 de novembro do mesmo ano, no campo da Ginástica, do início dos torneios recreativos esportivos, com sete equipes formada de não só atletas. Elas denominavam-se: Busca-pé, Sete Batutas, Beija-Flor, Quebra-Canelas, Pé-de-Anjo, Barriga-Verde e Fura-Céu.
Não existem maiores registros sobre resultados dos jogos, mas algumas pessoas recordam que foi um atrativo diferente entre os associados. O torneio foi vencido pela equipe do Beija-Flor, formada pelos associados: João Etcke, Carlos Sengel, Deoclides Muller, José Muller, Heinz Sadrtleben, Hugo Koch e Nicácio Schaeffer.
Desde o desfecho do trabalho com o futebol profissional, o Grêmio Esportivo Olímpico encontrou no atletismo outros grandes momentos de glória, a nível de competição, embora o grupo de atletas fosse sempre menor do que muitos clubes existentes em Santa Catarina.

O princípio de tudo foi realmente um verdadeiro fato pitoresco: a revista Argentina “El Gráfico”, por volta de 1940 motivou um grupo de estudantes do Colégio Santo Antônio, liderado por Egon Belz, Orion Tonolli e Lio César Peiter, sendo formada uma equipe para competições a nível regional. Logo surgiram outros, que a partir de 1945 já faziam do Olímpico um clube de respeito nesse setor.
Não se pode esquecer-se da figura de Karl Franz Engel, que diante do entusiasmo de tantos jovens, procurando desenvolver o atletismo, conseguiu com que o clube contratasse o professor Edgar Arruda Salomé para dirigir a equipe.
Até 1948 o clube já participava de competições a nível estadual e em seguida começou a enviar atletas para provas como a Corrida de São Silvestre. As condições de treinamentos eram rudes, pois o grupo não dispunha de uma estrutura perfeita para preparação, realizada no próprio gramado da Baixada. Mesmo assim logo despontaram, além dos precursores do atletismo, Egon e Orion, nomes como de Raulino Silva, Zuleika Lautjung, Lílian Olinger, Pedro Silva, Janete Rodrigues, Hosst Bonnet, geny Lino, Romoaldo Bonemassou, Carlos Dessler, Nilton Santos, Waldemar Sauer, Ivone Schneider, Pedro Souza, Pedro Maximiliano, Ronca, Carlos Norberto Engel, Leonardo Zipf, Werner Garni, Norma Telles, Maria Zen, Karin Lautjung, Íris Collin, Negro Luiz, Kurt Jaeger, Osmar Ramos, Wilson e Nadir Boos.
Apesar do sucesso em várias competições, as dificuldades eram ainda enormes para a manutenção da equipe, que entre os anos 1949 e 1951 quase foi desativada, ficando apenas a participar de provas rústicas, sendo que os próprios atletas custeavam suas despesas.
Em 1952 o quadro se reverteria. Dirigentes do Olímpico, encabeçados por Karl Franz Ehgel e Werner Garni, juntamente com o professor Arruda voltariam a dar uma nova injeção de ânimo aos atletas do clube. Na cidade surgiam outras equipes, como o Amazonas, dos funcionários da Empresa Garcia e o Duque de Caxias, dos Militares do 23 BI.
Com uma maior evidência, o então presidente da Liga Blumenauense de Desportos, Sebastião Cruz, criava em 1953 o departamento de atletismo na entidade, quando essa modalidade ganharia uma melhor forma e organização. A partir de então surgiam novos clubes voltados para essa prática, entre os quais o Trindade, do Pedro II, assim batizado em homenagem ao Professor Luiz Trindade, organizador do estabelecimento de ensino.
Em 1956 o Grêmio Esportivo Olímpico inaugurava sua nova e moderna pista, trazendo para Blumenau atletas recém chegados de Melbourn, das Olimpíadas daquele ano, entre os quais Ademar Ferreira da Silva, que então havia ganho a primeira medalha de ouro para o Brasil, no Salto Triplo, Telles da Conceição, Sebastião Mendes, entre outros. Marcaram as competições a quebra de três recordes brasileiros, e um espetáculo jamais visto em Blumenau.
A vinda desses atletas deu nova vida ao atletismo de Blumenau, que por várias oportunidades se fez representar em competições de maior destaque, sendo uma delas, os Jogos Abertos do Interior de São Paulo, quando destacou-se em três edições seguidas, a partir de 1957, com dois vice-campeonatos, em Bauru e São Carlos, e uma terceira colocação em Piracicaba.
Infelizmente nos anos 60, o Olímpico perderia um pouco do ritmo alcançado após a grande arrancada de 1956. Um ano após a inauguração de uma das melhores pistas atléticas do estado, o clube veria a enchente de 1957 prejudicar profundamente seu patrimônio, que necessitaria de reparos. As águas do Ribeirão Garcia chegaram poucos centímetros acima da janela da sede social e conseqüentemente a pista e o campo sofreram danos.
No final da década de 50 as condições já eram de incertezas para o atletismo do clube, pois as modalidades haviam caído no desinteresse dos jovens, apesar do incentivo de entidades, como a Liga Atlética Blumenauense (LAB), criada alguns anos antes.
Mesmo assim o Grêmio Esportivo Olímpico teve uma relação destacada de feitos a nível local, regional, estadual e nacional. Em maio o clube venceu provas realizadas pela LAB, presidida então por Dalton Pereira, além de conseguir várias primeiras colocações, no masculino em promoções para estreantes.
Em Blumenau o clube dominou completamente as competições internas. O campeonato da cidade aconteceu em 23 e 24 de agosto, e o Olímpico derrotou os demais clubes, destacando-se no naipe masculino, onde ficou 66 pontos além do adversário mais próximo, enquanto que no feminino apenas oito.
Em setembro, novamente Blumenau vai aos Jogos Abertos do Interior de São Paulo. Para mais esta participação, representando Blumenau estavam atletas do Olímpico: Karin e Zuleika Lauterjung, Illa Ittner, Christa Altenburg, Jeny Lino, Carl Heinz Dressler, Orion Tonolli, Romualdo Bonnemassou e Waldemar Thiago de Souza, que agora conseguem uma terceira colocação geral no atletismo, diante de outras grandes potências do esporte brasileiro.
O ano esportivo para o atletismo grená foi marcado por provas do Pentáculo, em 6 e 7 de dezembro. Apesar do mau tempo, a primeira colocação do masculino ficou com Osny Hoffmann e Orion Tonolli, em segundo. No feminino a vitória coube para Jeny Lino com Christa Altenburg na segunda colocação.
O primeiro campeonato estadual foi levantado em 1959, pois o título era sempre disputado por seleções e naquele ano os clubes participaram distintamente.

O Olímpico participou durante o ano em competições como a corrida do Facho, em Brusque, com Eduardo Silveira, Raulino Silva, Orny Reis, Otacílio Lopes e Arthur Reinert conseguindo a segunda colocação por equipe; os mesmos atletas obtiveram a terceira posição na Corrida da Fogueira em Florianópolis; vice-campeão, o Olímpico na Corrida da Semana da Pátria, em 3 de setembro; ainda naquele mês, no Citadino novamente ganhou no masculino e feminino, com larga margem sobre o segundo colocado, o Trindade. Nas competições alusivas aos 40 anos do clube, realizadas na praça de esportes do Amazonas, no Garcia, novamente os atletas do Olímpico brilharam e voltando a participar dos Jogos Abertos de São Paulo, em Santo André, teve novo destaque.
Com maior visibilidade, no Campeonato Estadual o clube venceu no masculino e feminino, nas competições realizadas no Amazonas. Foram campeões estaduais pelo Olímpico, em 1959, Orion Tonolli, Leonardo Schlossmacher, Osny Hoffmann, Osni Vitorino, Romualdo Bonnemassou, Horst Honnet, Gerhardt Dressler, Alcindo Lauer, Waldemar Witte, Zuleika Lauterjung, Jeny Lino, Carmen Pfuetzenreiter, Rolf Haas, Roland Geister, Harri Witte, Otacílio Lopes, Venâncio Oliveira, Raulino Silva, Venceslau Silva, Pedro Silva, Edegar Annusek, Illa Itther, Karin Lauterjung e Carlos Neon Chneider.
O maior espetáculo no esporte amador
De maneira geral o esporte amador brasileiro começou a projetar-se internacionalmente após as Olimpíadas de Melbourne, na Austrália, onde o atleta Ademar Ferreira da Silva conquistara a primeira medalha de ouro para o País, quebrando o récorde no Salto Triplo, em 1956. Nesse mesmo ano, em Blumenau, era inaugurada uma das mais modernas pistas de atletismo. A obra havia sido iniciada em 1952, durante a gestão de Arnaldo Martins Xavier, mas sua conclusão foi acelerada pelo presidente Benjamin Margarida.
Sua inauguração marcaria os festejos dos 37 anos de fundação do Grêmio Esportivo Olímpico, e como não poderia deixar de ser foi organizada uma inesquecível festa, com a presença dos melhores atletas do país, incluindo o primeiro herói olímpico nacional, Ademar Ferreira da Silva, nos dias 18 e 19 de agosto de 1956.
Além da pista, que levou o nome do prefeito Frederico Guilherme Busch Jr., foram entregues ainda outras instalações para a realização de provas de salto em altura e distância.
A entrega oficial iniciou-se dia 18 pela manhã, quando a Banda do 23º BI recebeu as autoridades com uma retreta, puxando assim as delegações convidadas especialmente, entre as quais além de Ademar, também figurava nomes como José Telles da Conceição, então terceiro colocado no ranking mundial no salto triplo, Sebastião Mendes, recordista sul-americano nos 1.000 e 3.000 metros rasos, além de Nadir Marreis, Paulo Cabral da Fonseca, Ary Peçanha de Sá, Ijoel Rosa, entre outros, das equipes do Flamengo, Vasco da Gama, Botafogo e Fluminense do Rio de Janeiro, Internacional, Grêmio, Cruzeiro e Segipa de Porto Alegre, Coritiba, do Paraná, Duque de Caxias e Olímpico de Blumenau além de Brusque e Rio do Sul.
Foi um total de 41 provas realizadas em dois dias, com a quebra de três recordes nacionais, com Telles da Conceição superando a maior marca no salto em altura, Astro Meyer, no arremesso de martelo, e Sebastião Mendes, nos 3 mil metros com barreira.
Além do atletismo, o futebol também marcou a festa com o jogo entre o Olímpico e a Seleção Brasileira Universitária, com a vitória desta por 4×3 sobre o time branco-grená. O final dos festejos foi marcado com um grande baile no Teatro Carlos Gomes, onde homenageou-se os atletas visitantes.