
É… não há dúvidas que o futebol é uma das maiores expressões da cultura brasileira. O espírito esportivo está presente nas nossas vidas. Por isso, não é exagero nenhum dizer que nove a cada dez habitantes do nosso país gostam de futebol. Até mesmo as mulheres. Talvez muitas delas até não levem jeito para coisa, mas certamente, já sentaram ao lado do companheiro para assistir a uma partida e até já gritaram gol.
Podemos dizer até que o futebol é o mundo, em uma pequena esfera de couro, muito amada, mas surrada, constantemente, dentro de uma arena, por 22 leões afoitos, para gerar aquilo que nós chamamos de alegria, euforia, muita euforia.
Por mais incrível que pareça, essa verdadeira “paixão nacional”, que é o futebol, e que inclusive, já faz parte de nossos sonhos, é um esporte bretão. É… isso mesmo. Embora, o Brasil seja considerado o “país do futebol”. O esporte nasceu de uma adaptação inglesa, baseada em jogos disputados pelos egípcios, soldados feudais, entre outros povos primitivos, de raízes européias.
O futebol teve essa sua organização em 1863, enquanto que na Inglaterra, aconteciam diversos conflitos. A realidade mudava com a revolução industrial, no período da “Era Vitoriana”. Aí começa a paixão pelo esporte. Nas horas de folga, inclusive nos finais de semana, os operários brincavam de chutar bolas de pano ou até mesmo bexigas de ar. O jogo era uma coisa lógica. Precisava, apenas, de uma meta e organização
A prática, até então conhecida como “Jogo de Pés” ou “Football”, chegou aos ginásios, onde criou verdadeiros discípulos, que foram os responsáveis pela transformação no futebol – que atualmente é uma das maiores riquezas do planeta. Mas, foi em 1984, que o futebol chegou ao Brasil, por um estudante, aristocrata paulista Charles Miller. Aos poucos o esporte foi crescendo.
Mais tarde, por volta do ano de 1897, o futebol foi aperfeiçoado pelo alemão Hans Nobiling. Miller e seus companheiros criaram uma equipe no São Paulo Atletic Club, enquanto Nobilling procurou sua introdução no SC Internacional, mas tarde Sociedade Germânica, também da capital paulista.
O futebol logo ultrapassaria as fronteiras daquele estado, alojando-se no então Distrito Federal. Logo, o Rio Grande do Sul, Minas Gerais e outros estados também se mobilizaram e muitas sociedades criavam departamentos independentes para sua prática. Na virada do século já existiam grandes expressões, como o próprio Paulistano (desvinculado) do São Paulo Atletic Club, Fluminense (1902), Flamengo (1903), no Rio de Janeiro; Rio Grande (1900) e Grêmio Football Portoalegrense (1903) e mais tarde o SC Internacional de Porto Alegre (1909).
Mesmo tendo sido implantado no extremo sul do país, o futebol seria na segunda década, introduzido no Ginásio Catarinense, duas equipes: o Externato FC e o Internato FC. A primeira equipe era formada por jovens residentes em Florianópolis. Já a segunda, por alunos internos, vindos de outras cidades catarinenses. Isso colaborou, obviamente, para que o futebol fosse introduzido em diversos municípios, conquistando a simpatia das populações.
No início do século, o Brasil era voltado a algumas revoluções, seqüelas da instalação da República. No Rio Grande a luta era entre Maragatos e Chimangos, enquanto que em Santa Catarina os monges do Contestado criavam alguns povoados. Surgiram ainda questões internacionais como as pretensões argentinas em obter parte do território brasileiro, assim como os bolivianos pretendiam boa faixa pertencente ao País. Oswaldo Cruz descobria a vacina contra a Febre Amarela, que dizimava nossas populações.
O Brasil conhecia em 1916 seu novo Código Civil, e as preocupações voltavam-se, nas duas primeiras décadas, às constantes ameaças à Paz Mundial. Em Blumenau, o século XX iniciara com as comemorações de seu cinqüentenário. Chegaria à cidade, o cinema, o Exército Brasileiro. Neste período, as enchentes começavam a preocupar.
No setor esportivo começava a surgir o futebol, ao lado de outras tantas modalidades. Já existiam clubes de tiro e ginástica, nas colônias alemãs. Em 191? foi realizado, oficialmente, o primeiro jogo de futebol em Blumenau, entre jovens da cidade e marinheiros alemães. A partir de então nasciam os clubes: Anita Garibaldi, Brasil, FC Blumenauense, entre tantos outros, que ao longo dos anos, fizeram vibrar, inúmeras platéias fiéis, que mesmo em meio a tantos problemas, conseguiram fazer do esporte, de modo geral, um verdadeiro sinônimo de Blumenau.
O primeiro jogo

Na segunda década do Século XX, o futebol já era atração em Blumenau, mas somente praticado entre equipes formadas pelos jovens do “Turnverein” e operários da Empresa Garcia. Os movimentos no Pasto do Hotel Holetz, onde hoje se localiza a Alameda Rio Branco, era o centro de atenções dos desportistas. Logo o futebol começou a ser praticado por diversas classes sociais, mas sem existir algum clube ou equipe completamente organizada.
Por isso, o primeiro jogo foi fundamental. Em 25 de março de 1911 ancorava no Porto de Itajaí, o cruzador Von Der Tann, da Imperial Esquadra Alemã, com mais de 500 homens, entre oficiais e marujos. Eles programaram uma viagem de lazer às colônias alemãs, com roteiro passando de Blumenau, indo até Hansa-Hamônia, hoje Ibirama. Logo, no cais do porto, receberam o convite para uma partida de futebol, que foi aceito e marcado para o dia posterior à visita.
Conforme registros do jornal: Der Urwaldsbode, da época, era um domingo à tarde, quando dezenas de pessoas foram até o Pasto do Hotel Holetz, para prestigiarem o encontro, que se constituiu em uma partida, com muitas emoções. O semanário não indicou placar, mas presume-se que os blumenauenses tenham perdido. Nem por isso desanimaram para prosseguirem com o progresso do futebol na cidade.
O campo dos Holetz era um gramado bastante primitivo e servia de local de treinamentos para os atletas do Turnverein. Possuía duas traves de madeira, talvez em dimensões não oficiais, da mesma forma a marcação era cavada no próprio solo e a altura da grama dependia dos animais que eram soltos no local para alimentarem-se das gramíneas. Mesmo com todo o improviso próprio dos brasileiros, o jogo foi realizado.

O time dos alemães formou apenas com 10 jogadores, pois um dos 11 oficiais que compunham a equipe teve que ficar a bordo do navio para comandar a guarda. Ainda assim, os alemães não tiveram dificuldades para vencer o jogo.
Tudo começou com a ginástica

A organização social foi sempre fato evidente, entre os alemães, trazidos ou simplesmente atraídos à Colônia Blumenau, na metade do século passado. Foram eles que deram um incremento importante para a prática esportiva, sadia e não predatória.
O desenvolvimento esportivo foi um aspecto que encontrou o seu devido eco no meio social. Eram criados clubes de Caça e Tiro, que são mantidos como uma das mais ricas tradições regionais. Porém, o esporte coletivo também encontrou seu lugar no solo blumenauense. Sendo implantada, na região, a Ginástica Alemã, como era conhecida a modalidade.
Em 5 de outubro de 1873 era criada a Turnverein Blumenau (Sociedade Ginástica) – que além do esporte alemão de maior popularidade também desenvolvia outras modalidades, tais como o Preaball, Faustball (Punhobol) e o Handeball, que ganharam das mesma forma, parcelas de espaço junto à comunidade.
Durante 70 anos, a ginástica era muito concorrida. Mesmo utilizando as dependências da Sociedade de Atiradores, hoje, Tabajara Tênis Clube envolvia-se com outros segmentos da sociedade, através de promoções culturais. Com a Turnverein Blumenau, a cidade trilhava os primeiros passos para sua complexidade organizacional esportiva. Prova disso foi a construção do primeiro ginásio esportivo coberto de Santa Catarina, na década de 1920.
Como entidade de desenvolvimento do esporte, a Turnverein lançou no pioneirismo do trabalho de base. Entretanto, apesar de grande difusão, o ápice da Ginástica começou a ser interrompido no final dos anos 30, quando já havia o Turnverein visto seu departamento de futebol, criado em 1910, se desvinculando para tornar-se um clube autônomo – FC Blumenauense. No entanto, mesmo como entidade paralela sempre usufruiu das bases criadas pela Sociedade Ginástica.
Com a Segunda Guerra Mundial os descendentes de alemães tiveram pressões unilaterais chegando ao ponto de desativarem a Ginástica. Em 1942, morre a TURNVEREIN BLUMENAU. Seu patrimônio passou para o estado, principalmente, o ginásio esportivo, que hoje pertence ao Conjunto Educacional Pedro II. Felizmente, as tradições e os ideais esportivos não morreram. Blumenau prosseguiu, com ajuda do Olímpico e outros clubes da cidade, garantir a sobrevivência esportiva, tanto no amadorismo como no profissionalismo, até os dias de hoje.



O Brasil vivia seus mais agitados anos do século XX, com muitas incertezas, principalmente pela crise mundial que havia se iniciado no final dos anos 20. Mesmo com os aspectos econômicos afetados, o Brasil viu nesse período o início dos Anos Vargas e uma maior descentralização política.
Na década de 30 até 40 governaram Santa Catarina os governadores Adolpho Konder, Bulcão Vianna, Fúlvio Aducci, Acastro Campos, Otávio Neves, Melquiades Cavalcanti, Assis Brasil, Pedro da Silveira, Luiz Carlos de Moraes, Cândido de Oliveiras, Rui Zobaran, Aristiliano Ramos, Plácido de Oliveiras, Borges do Amaral, iniciando-se a grande ascensão daquele que seria mais tarde um dos mais conceituados estadistas catarinenses: Nereu Ramos.
A crise econômica afetou, sem dúvida, o campo sócio-cultural-esportivo. Ao mesmo tempo em que se via o futebol crescer, avistava-se o início do profissionalismo. O esporte amador por outro lado, ganharia novo impulso para práticas de modalidades chamadas as de salão. O próprio Football Club Blumenauense tomou essa iniciativa e teve participação decisiva no amadorismo da cidade. Apesar da crise em diversos setores, o clube se manteve, e com muito esforço conseguiu ainda muitas realizações.
Nasce o futebol para os blumenauenses
Não se sabe ao certo, quem trouxe o futebol a Blumenau, mas ele surgiu como departamento da Sociedade Ginástica. Em Florianópolis, o esporte saiu do Colégio Catarinense ganhando as ruas sendo então criados alguns clubes, como o Florianópolis Futebol Clube, Palmeiras Esporte Clube, entre outros de menor expressão. Nas demais cidades do estado surgiam organizações mais sólidas, depois que as rivalidades iniciaram-se, em questão de 3 ou 4 anos.
Em Blumenau, o departamento de futebol pertencia à Turnverein Blumenau, onde os próprios ginastas, dirigidos pelo desportista blumenauense Bruno Hindelmeyer e seu irmão Oswaldo, criaram a primeira equipe, por volta de 1910. Os jogos, que hoje poderíamos classificar como verdadeiras “peladas” realizavam-se no Pasto do Holetz, próximo onde hoje está erguido, Grande Hotel.
Essa equipe seria a primeira do estado a disputar uma partida internacional. A exemplo de Blumenau, onde o esporte oficial era a ginástica, outra cidade alemã recebia reflexos do novo esporte. Aqui em 1914, era criado, o Anita Garibaldi e em Brusque surgiria o Brusquense – mais tarde Carlos Renaux.
Até o final da década surgiriam ainda, em Brusque o Paisandú (1918), que hoje forma a equipe do Brusque Futebol Clube, na fusão de 1987 com o Carlos Renaux. Em Itajaí, nascia em 1919, o Marcílio Dias e Almirante Barroso. Jaraguá do Sul criara o Brasil, mais tarde denominado Baependi, em homenagem ao navio afundado em costas brasileiras em plena II Guerra. A cidade de Tijucas também providenciou o seu time e deu origem ao Tijucas Futebol Clube.
O futebol brasileiro estava se consagrando e a nação emprestou seu nome para inúmeros outros clubes, inclusive em Blumenau. Em 19 de julho de 1919, após o fechamento do Anita Garibaldi era criado o Brasil Futebol Clube. O Blumenauense Futebol Clube, que hoje é o Grêmio Esportivo Olímpico, veio a pouco menos de um mês, no dia 14 de agosto.
A partir de um bate papo nasce o Blumenauense

O futebol de Blumenau, de 1911 até 1919, era representado apenas por grupos de jovens influenciados pelas ideias desse novo esporte trazido para o Brasil a pouco mais de 20 anos. O esporte atraía cada vez mais adeptos, formava ídolos, entre eles Arthur Friedenreich, filho de um blumenauense, consagrado em campeonatos paulistas e jogos pela Seleção Brasileira, campeã sul-americana de 1919.
Em 1915 um grupo liderado por Emílio Rüdiger criava o Anita Garibaldi, que mais tarde se dissolveria, por problemas internos. Foram inúmeras as tentativas para reerguer o clube. Até que em 1919 surgiu uma corrente de desportistas resolveu criar o Brasil Football Club, que tornou-se o Palmeiras Esporte Clube e mais tarde passou a ser chamado de Blumenau Esporte Clube.

Na verdade existiam alas distintas no esporte blumenauense. Mas, a partir da reunião no Hotel Esperança, jovens atletas do Turnverein Blumenau, começaram a se desvincular do departamento de futebol daquela Sociedade, transformando-o em um novo clube para voltarem-se exclusivamente ao futebol. A idéia estava bem fundamentada, mas restava apenas um pouco de decisão. Vinte e seis dias após a fundação do Brasil, uma reunião de bar foi o suficiente para um punhado de idealistas fundarem o Futebol Clube Blumenauense. Pouco se sabe sobre o encontro porque todos os integrantes já faleceram. Por outro lado, em função de enchentes constantes, que varreram a cidade, poucos documentos sobre o Blumenauense restaram, mas o destino reservava a partir daquele momento o lugar para uma nova e gloriosa bandeira do esporte catarinense.
Poucos são os registros existentes dos dois primeiros anos de vida do Futebol Clube Blumenauenses. Acredita- que suas atas de reuniões da diretoria, de 14 de agosto de 1919 a novembro de 1921 tenham sido perdidas com o decorrer dos anos. Porém, presume-se que o primeiro livro de atas tenha sido instituído a partir de 27 de novembro de 1921, escrito pelo então jornalista Gomes Winther.

Essa verdadeira relíquia histórica, não somente do clube, mas de um modo geral da vida esportiva blumenauense, estava extraviada por quase 50 anos. Até que foi localizado pelo ex-presidente Benjamin Margarida, no seu cartório.
Conforme consta, o livro tem sua última ata datada em 1941, mas incompleta. Reflexos de guerra obrigaram Otto Abry a esconder o documento, em virtude de algumas de suas atas serem escritas em Língua Alemã que era proibida na época. Por medo de perder a memória do clube Otto o escondeu entre os livros do cartório, que anteriormente era seu. Na época alertou Margarida, seu então escriturário, da existência em lugar indetermindado do livro, que finalmente, e por acaso foi encontrado em junho de 1989.